4 PERGUNTAS – BIELO PEREIRA

24-06-2020

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No dia 28 de junho, domingo, será celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIA+.

A escolha da data não foi à toa e remete aos acontecimentos de 1969, no StoneWall Inn, famoso bar da cena gay em Nova York, que funcionava numa época em que não eram permitidos espaços para convivência das pessoas LGBTQIA+ e servia de ponto de encontro informal, permanecendo aberto graças ao pagamento de propinas às autoridades locais.

Ainda assim, eram comuns batidas policiais e agressões aos frequentadores do bar, até que eles resolveram revidar. O dia do estopim foi justamente um 28 de junho. A faísca teria sido a agressão que uma lésbica sofreu de um policial. Não há consenso sobre quem iniciou o protesto, mas sabe-se que houve grande protagonismo de pessoas trans, drag queens e lésbicas, além dos gays, claro. Os protestos em Nova York duraram pelo menos três dias e um ano depois, também num 28 de junho, as ruas da cidade recebiam a primeira Parada do Orgulho.

A sigla LGBTQIA+ abriga mais identidades (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli e mais) e se hoje este assunto pode ser discutido livremente em alguns espaços, é porque muita gente foi e continua indo às ruas demandar direitos e visibilidade. Lembrete: LGBTfobia é crime no Brasil desde 2019.

Para celebrar o mês em que se comemora o Orgulho LGBTQIA+ e trazer mais repertório para nossa série “Inspirar para não pirar”, conversamos com Bielo Pereira, Bacharel em Lazer e Turismo pela Universidade de São Paulo e comunicadora, que contribui com seus conteúdos multiplataforma e sempre educativos no GNT, com o programa “Coisa Boa Pra Vc“; no NinjaCast, com o podcast “As Tias do Pavê“; Quebrando o Tabu, Canal Preto, TODXS, entre outros.

Com seu perfil (verificado, tá ok?) no Instagram, fomenta pautas de gordoativismo, empoderamento de pessoas negras e luta contra a discriminação da população LGBTQIA+. Bielo também é empresária e atua por meio de palestras, vídeos, podcasts e performances artísticas (dentro e fora do mundo digital).

1- Junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+. O que representa pra você esse período?

Bielo Pereira: Pra mim representa o mês em que não só podemos como devemos gritar a plenos pulmões que (re)existimos, e que nossas vozes devem ser ouvidas. Durante muito tempo apenas a voz do homem gay branco foi ouvida, e eu vejo que nesse ano começamos a mudar isso, e a entender que genuinamente todas as letras da sigla importam e devem se apoiar mutuamente, porque se não há respeito para uma de nós, não há respeito pra ninguém.

2- À frente do programa “Coisa boa pra você”, do GNT, sua presença marcante é fundamental para desconstruir alguns pensamentos e abrir a cabeça dos espectadores. Como você seleciona as mensagens que quer passar?

Bielo: Selecionamos sempre com muito cuidado, para que o programa seja atual e inspire o telespectador a reproduzir as boas ações ali mostradas nas suas microcomunidades.

3- Sendo uma pessoa interssexual, gorda e preta, como você acredita que a humanidade pode curar-se de seus preconceitos?

Bielo: Através do respeito e empatia, e isso começa com a inclusão. Se você não convive com pessoas diversas, dificilmente você vai conseguir entender e respeitar pessoas que são diferentes de você. Conviver com pessoas que tiverem backgrounds dissonantes gera um ambiente de constante aprendizado para ambas, e só o respeito vai fazer com essas realidades se mesclem criando um novo ecossistema sem preconceitos.

4- Você participou do nosso DEB4TE Lifetalks sobre Gordofobia no Turismo. Quão importante são essas discussões para a evolução dos serviços e equipamentos turísticos? Você já sofreu preconceito durante uma viagem?

Bielo: A importância é extrema, uma vez que somos consumidores e não estamos solicitando nenhum tipo de serviço além dos que nos foi prometido, com a mesma qualidade que é concedida a um corpo padrão. Quando falamos de turismo e mercado de entretenimento, há uma defasagem muito grande no atendimento às necessidades da pessoa gorda e isso deve mudar urgentemente, pois afeta diretamente o nosso direito de ir e vir, uma vez que uma simples viagem de avião pode ser o fator determinante para que uma pessoa gorda não viaje, por saber de antemão que não terá um serviço a altura.

Eu já tive experiências como me hospedar em hostel e precisar utilizar o banheiro do quarto privativo, pois o que estava incluso no meu pacote simplesmente não me comportava. Passar uma viagem inteira na tensão de que, se alguém aparecesse e quisesse ocupar aquele quarto, eu iria perder o mínimo de conforto que já deveria ser garantido no momento em que eu reservei aquela acomodação. Na Colômbia, já comprei passeios para conhecer castelos e me foi recomendado que permanecesse no ônibus para que não atrasasse o grupo no tour. Esse é um tipo de stress que deve ser evitado pelo setor, por afetar diretamente a experiência do cliente como o destino como um todo.