4 PERGUNTAS – CLAUDIO HENRIQUE DOS SANTOS

22-04-2020

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Se você ainda não ouviu falar sobre o Coronamacho , vírus que anda destruindo lares e empresas mundo afora, você precisa ler o bate-papo dessa semana em nosso blog com o Claudio Henrique dos Santos.

Na Renault do Brasil, onde atuou por 12 anos, Claudio ocupou os cargos de Gerente de Imprensa, Gerente Executivo de Comunicação e depois de Relações Institucionais. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, é escritor, palestrante e mantém blog e canal no Youtube focados em temas como equidade de gênero, machismo, paternidade e diversidade. Também é um dos apoiadores da campanha “ElesporElas” (“HeforShe”) da ONU Mulheres e escreve para o site Papo de Mãe (que faz parte do conteúdo do portal Terra).

Após uma carreira bem-sucedida de executivo na área de Comunicação, em 2011 decidiu apoiar a da esposa, que havia recebido um convite para trabalhar em Singapura, e assumiu as tarefas da casa e os cuidados com a filha. Em 2012, a família mudou-se novamente, para os Estados Unidos, e atualmente mora na França. A experiência virou livro, palestra e vai até inspirar um filme, com lançamento previsto para 2021.

1- Como você definiria o macho do século XXI?

Claudio Henrique dos Santos: Tem tanta coisa… Os tempos mudaram. Acredito que o Macho do Século XXI é aquele cara que já percebeu isso e que tenta desconstruir conceitos arcaicos da nossa sociedade em relação ao machismo e a desigualdade de gênero.

Da mesma forma que as mulheres avançaram em relação ao território do trabalho fora de casa, uma parte dos homens ainda precisa ocupar este espaço da casa e do cuidado dos filhos.

O Macho do Século 21 é esse cara que compartilha as tarefas, considera sua companheira uma parceira de vida, respeita as mulheres dentro da sua casa, nas empresas, na sociedade em geral. E que, principalmente, entende que a igualdade de direitos e oportunidades é benéfica para todos.

2- Para que a equidade de gênero seja de fato implementada pelas empresas, qual a importância da diversidade entre seus líderes?

Claudio Henrique: Organizações inclusivas consideram a diversidade em suas escolhas e na tomada de decisões em relação a seus produtos, públicos e atividades. Isso se reflete inclusive nos resultados financeiros. Estudo global recente da consultoria McKinsey mostra que empresas mais diversas tem até 33% de chances de serem mais lucrativas. A diversidade na liderança tem um papel fundamental nisso.

Nas empresas onde o processo ainda está em andamento, discute-se muito a necessidade da implementação de uma liderança inclusiva, engajada e aberta a proporcionar oportunidades de crescimento a todos, para que a diversidade chegue a todos os níveis da empresa. O talento pode ser encontrado em todos os lugares. As oportunidades não. Cabe a quem ocupa as posições de decisão abrir estes espaços.

Incluir a diversidade como valor essencial da empresa, é o princípio, meio e o fim do processo. E não basta apenas falar. As crenças e visões devem se transformar em políticas, posturas e ações concretas. E o exemplo deve partir da alta liderança da empresa.

3- Sendo um profissional da Comunicação, quais seriam suas recomendações para que as empresas aproveitassem esse reset que o mundo está dando e eliminassem o “Coronamacho” de suas equipes?

Claudio Henrique: O momento atual é um convite para que cada um de nós reveja suas práticas, atitudes e conceitos. Isso vale também para as empresas. O mundo já vinha mudando rapidamente, mas tenho a impressão de que este aprendizado com a Covid vai funcionar como um catalisador de muitas das mudanças.

A abertura para a diversidade aumenta a visão de novos mercados, melhor entendimento dos consumidores e suas expectativas e, potencialmente, melhores resultados de fidelização. Todos esses elementos serão imprescindíveis para a reinvenção que se fará necessária nos tempos d.C (depois da Covid).

Assim, para aqueles que ainda não entenderam os benefícios da equidade de gênero e da diversidade, talvez esse aprendizado chegue pela dor, ao invés do amor. Minha previsão é de que os “coronamachos” precisarão passar por uma verdadeira mutação genética para sobreviverem no ambiente corporativo.

4- Em alguns setores econômicos como o Turismo, por exemplo, ainda vemos muitos homens brancos e heterossexuais à frente de empresas e organizações sendo constantemente convidados para eventos, entrevistas e palestras, repetindo pensamentos e atitudes que já não cabem na sociedade atual. Como romper com esse comportamento e não se corromper pelo suposto poder que exercem?

Claudio Henrique: Esta situação não é muito diferente dos outros setores da economia. Existe um padrão dominante nas pessoas que ocupam cargos de liderança. Pesquisa do Instituto Ethos com as 500 Maiores Empresas mostra que 87% desses postos são ocupados por homens brancos, na grande maioria heterossexuais, e sem deficiência física. Mas certamente, aqueles que fazem parte do grupo dos 13% são tão competentes e influentes quanto os outros. Portanto, merecem a mesma atenção.

Diversidade também é uma escolha, que muitas vezes precisa fugir de determinados padrões, criar novos até. Num momento que me parece tão sensível para o setor, a reinvenção a partir da inclusão pode ser um movimento estratégico.

Acho que uma boa dica é buscar sempre a maior representatividade possível entre todos os grupos da diversidade. Ao promover um painel de debates ou escolher palestrantes para um determinado evento, quanto mais visões e vivências diferentes, melhor. Não tenho dúvida que isso tornará seu evento muito mais interessante e atrativo.

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Vale lembrar que, desde 2015, Claudio passa algumas semanas por ano no Brasil fazendo palestras sobre equidade de gênero e o novo papel do homem na sociedade, após viver uma experiência transformadora, que ele conta em seu primeiro livro: Macho do Século XXI – O executivo que virou dona de casa. E acabou gostando. Em 2016 lançou seu segundo livro: Mulheres modernas, dilemas modernos.