4 PERGUNTAS – GLENDA MOREIRA

16-07-2020

Share Button

Glenda Moreira é psicóloga formada pela FMU e atua como Recrutadora Regional e Líder de Diversidade e Inclusão para a América Latina na Novartis.

Curiosa por aprender mais sobre as nuances do ser humano, em 2011 foi buscar uma especialização em Coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching. Apaixonada pelas diferenças entre as pessoas e acreditando que o mundo pode ser mais justo a partir das ações de cada um de nós, Glenda se enveredou pelas trilhas da Diversidade em 2015. Para complementar seus conhecimentos na área, cursou Gestão da Diversidade na PUC-SP, em 2019.

Pautou sua carreira na área de Recursos Humanos, com o foco na área de Atração de Talentos, onde construiu áreas e remodelou processos, criando abordagens mais estratégicas alinhadas à cultura organizacional.

Acredita que as empresas estão se remodelando e, cada vez mais, entendendo que Diversidade traz sim diferenciais para os negócios e que Inclusão traz diferenciais para a humanidade. Segue compartilhando seus aprendizados, pois acredita no poder da troca. Seu mantra atualmente é “Juntos somos mais fortes e mais eficazes!” e com ele conquistou o palco de nossa série “Inspirar para não pirar”.

Se sua empresa ainda não tem um departamento de Diversidade & Inclusão ou se você acha que mais pessoas do mercado corporativo devem entender como podem aprimorar as relações humanas e serem mais criativos, leia a entrevista a seguir e depois compartilhe.

“Seja a mudança que você quer ver no mundo”
– Mahatma Gandhi

1- Como você conseguiu ser protagonista da sua vida e carreira em um mundo ainda tão machista e LGBTfóbico?

Glenda Moreira: Uau! Boa pergunta. Talvez eu seja uma sobrevivente dessa opressão toda ou quem sabe os privilégios que eu nunca percebi que tinha me camuflaram?

O fato é que eu sempre fui cabeça-dura de alguma forma. Era assim que me intitulavam, mas hoje eu acho que, na verdade, eu era e ainda sou determinada. As injustiças nunca tiveram espaço na minha vida e já briguei na escola por isso (delinquência juvenil com propósito, digamos assim).

Obviamente a maturidade ajuda a ver que essa determinação tem uma medida e quando aliada a um propósito ela pode se tornar uma aliada na vida. Me joguei na vida pra ver se a água estava fria e esteve por muitas vezes, mas acho que agora, depois dos 40, sinto que a água está começando a ficar morninha (risos).

2- A diversidade contribui para a multiculturalidade de empresas e comunidades, colaborando para uma sociedade mais evoluída e respeitosa. Quais os passos para aplicá-la no dia-a-dia de maneira sistemática e efetiva?

Glenda: Sim, a diversidade abre espaço para agendas transversais que se complementam e ganham força juntas, tanto na área privada quanto nas comunidades, e TODES ganhamos com isso. A maneira sistemática e efetiva seria falarmos abertamente sobre o que não sabemos e criar ação para equalizar as oportunidades, mas ainda nos deparamos com os desafios básicos de modos de pensar cristalizados e crenças arraigadas que não nos permitem ver a evolução do mundo na sua magnitude. Eu consigo entender que a medicina de 1920 não faz sentido hoje, mas não consigo perceber a evolução humana e das relações humanas? O medo de sairmos da nossa zona de conforto ainda é muito grande, o desconhecido nos paralisa e por isso não nos permitimos dar um passo adiante.

Por isso pra mim a solução é a gente se despir dos velhos clichês e nos desconstruir. Se deixarmos novos conceitos entrarem nas nossas vidas, conseguiremos ver que o que um dia foi “ tido como certo” talvez hoje já não seja assim. RESPEITO pelas diferenças só pode ser criado e desenvolvido a partir do momento que eu não julgo o outro e, para isso, precisamos rever a história de mundo que criaram e as caraminholas que implantaram em nossas cabeças. Faz sentido dizer que só porque eu amo alguém do mesmo sexo eu sou incapaz, menor e menos valorosa que alguém? Não, né!? Então precisamos refletir mais.

3- O que te inspira a fazer a diferença?

Glenda: Ah!, essa pergunta me faz abrir um sorriso largo no rosto, com certeza. Sorrisos, abraços, conversas genuínas, evolução das pessoas. Tudo isso me inspira a fazer a diferença, mas principalmente a maternidade. Eu percebi que precisava ser mais vocal no meu propósito depois que tive filho. Se eu quero um mundo melhor para ele viver, eu tenho que fazer um mundo melhor pra todos nós. Só assim os sorrisos, abraços e conversas genuínas poderão ser uma realidade na vida dele. Assim a evolução terá um alcance muito maior, muito além do meu quintal.

4- É muito difícil implementar um departamento de Diversidade & Inclusão numa empresa? O que você recomendaria para alguém que quer implantar um, mas não sabe por onde começar?

Glenda: Sim e não, depende do momento da empresa. Mas o lado bom é que é possível (risos).

Para ter uma área de Diversidade você precisa primeiro entender o que isso significa, pois com certeza passará por uma revisão da cultura da organização, das políticas da empresa e uma revisão profunda do código de ética. A partir daí você precisa entender qual é a sua maior dor, por exemplo: negros em cargo de liderança? Contratação de pessoas trans? Pessoa com deficiência ou mulheres em cargos tidos como majoritariamente masculinos? Só a partir deste diagnóstico que deve ser feito através de pesquisa é que você conseguirá montar um plano estratégico que converse com a agenda de RH e do negócio. Diversidade tem que estar na pauta do negócio. Se não estiver, não conseguirá permear todas facetas da organização e morrerá na praia. Implantar um departamento de Diversidade é viver a diversidade no dia a dia.