4 PERGUNTAS – RICARDO FREIRE

01-07-2020

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Conhecido como Comandante na blogosfera, muito por ter sido o precursor entre os blogueiros de viagem e ajudar milhares de brasileiros a viajarem melhor desde então, o gaúcho de Porto Alegre Ricardo Freire abandonou a publicidade para virar turista profissional.

Antes de ser fisgado de vez pelo turismo, criou campanhas que até hoje são referência na propaganda nacional. São dele os bordões “Não é assim uma Brastemp” e “Folha: não dá para não ler”. Quem lembra? _o/

Em 1998 publicou o livro “Viaje na Viagem: auto-ajuda para turistas” e, desde então, escreve sobre viagens – que se tornou sua nova profissão sete anos depois, em 2005. É o editor do blog Viaje na Viagem, que celebrou 15 anos com uma festa exclusiva no Bar dos Arcos, no Teatro Municipal de São Paulo, organizada pela B4Tcomm tão secretamente quanto o lugar escondido, ops! escolhido 😉

Também foi o Riq, como costuma se identificar nas redes sociais e ser chamado pelos amigos e leitores mais próximos, que dividiu o antigo público viajante (pré-Covid) em três grupos: os ‘tô-nem-aíners”, os ressabiados e os abstinentes. Ele explicou em um post do Facebook como deverá ser o comportamento desses novos turistas (pós-Covid), que recebeu mais de 500 likes, 151 comentários e 77 compartilhamentos na mesma rede, mostrando que muita gente concorda com ele.

Você pode encontrá-lo na Bandnews FM como colunista (atualmente em licença), no YouTube, no Instagram e, claro, no Viaje na Viagem, mas só aqui, na série especial “Inspirar para não pirar”, você o encontra como o verdadeiro embaixador do Turista.

Carimbe o passaporte e venha viajar nesse papo!

1- Em 15 anos de estrada, indo a campo para coletar sempre a informação mais completa para o leitor do seu blog, o que você ainda acha que precisa mudar na infraestrutura turística do Brasil?

Riq Freire: Eu acho que todas as instâncias oficiais do turismo (secretarias municipais, estaduais e ministério), deveriam imaginar como atuariam se, em vez de se chamarem “do turismo”, se chamassem “do turista”: Secretaria Municipal do Turista, Secretaria Estadual do Turista, Ministério do Turista. Falta pensar o turismo do ponto de vista do viajante, não apenas do ponto de vista dos empreendedores. Em vez de “o que pode ser feito para melhorar o negócio do turismo aqui”, que tal “o que pode ser feito para melhorar a experiência do turista aqui”?

Faltam alternativas de transporte dos aeroportos a destinos próximos, faltam passes de atrações, falta regular a operação de bugueiros e barqueiros, falta uma regra nacional sobre ocupação das praias, que oscila entre o não-pode-nada e o vale-tudo. Falta levar em consideração o interesse do turista, não só o dos empresários ou dos políticos.

2- Entre a Publicidade e o Turismo, se hoje você estivesse prestes a ingressar numa universidade, que formação escolheria e por quê.

Riq: Apesar de ter me formado em publicidade, tudo o que usei na minha carreira de publicitário aprendi trabalhando. Hoje em dia eu consideraria estudar turismo, provavelmente junto com economia, se quisesse trabalhar com formulação de políticas de turismo. Mas para fazer o que eu fiz em publicidade ou o que eu faço hoje no blog, o mais útil teria sido aprimorar meu inglês e meu espanhol o mais cedo possível. Dominando inglês você aprende o que quiser. Se eu tivesse 19 anos hoje, talvez me aventurasse a aprender mandarim também – pensando em dividendos comerciais…

3- O Turismo brasileiro carrega uma bagagem de insucessos, tanto na esfera pública quanto privada. Como a Comunicação pode ajudar a alavancar esse setor, que representa uma das maiores economias do país?

Riq: A comunicação pode ajudar muito – sobretudo porque não nos comunicamos há uns dez anos. Perdemos a oportunidade de seguir a Alemanha e alavancar a imagem turística do Brasil depois de Copa e Olimpíada, mas o follow-up foi nulo. Não temos tema, não temos posicionamento, não temos voz. (Felizmente, é provável que este governo acabe antes de tentarem implantar aquela marca lamentável que apresentaram no início de 2019.)

Mas eu proponho que a gente volte à casa zero. O primeiro boi na linha acontece na comunicação com o público brasileiro – ou melhor, com a falta dela. Desde a bolsa-Disney (o dólar abaixo de 2 reais) o Brasil nunca voltou a estimular, via comunicação, o turismo do brasileiro pelo Brasil. Viagens domésticas se tornaram prêmios de consolação para quem não pode viajar “de verdade” (para o exterior).

O efeito colateral disso é que o brasileiro não acredita na ideia de que o Brasil possa ser um destino atraente para visitantes estrangeiros. Na cabeça do viajante brasileiro médio a ideia de viajar a um lugar mais pobre ou menos seguro do que onde moramos é inconcebível. Cariocas tropeçam em turistas estrangeiros felizes durante boa parte do ano mas, se perguntados, dirão que o Rio de Janeiro é um lugar inviável para o turismo.

O que o carioca pensa do Rio é o que o brasileiro pensa do Brasil. Somos o único povo que eu conheço que recomenda a estrangeiros que não venham para cá de férias. Se não tentarmos interferir nesse importante vetor de contra-publicidade, não haverá comunicação que funcione.

4- Se todo mundo pode viajar com uma mala P, como você costuma dizer, como os empresários do Turismo brasileiro poderiam utilizar melhor um orçamento P?

Riq: Assim como a mala P melhora a experiência de viagem de qualquer viajante, o orçamento P é uma bênção para quem tem negócios no turismo, porque vai realizar um trabalho mais focado, sem desperdícios. O que era caro há 10 anos – produção e mídia – hoje é comparativamente MUITO barato, graças à democratização da produção digital de imagens e às redes sociais. Por uma fração do que você gastaria em produção, hoje você se mantém permanentemente no ar. Mas não vale a pena economizar em estratégia: procure um especialista para a sua verba ser mais eficiente.