4 PERGUNTAS – ZECA CAMARGO

22-07-2020

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Zeca Camargo é, antes de tudo, um viajante. Com 114 países nos passaportes, já deu 4 voltas ao mundo – mas não se esquece de que é preciso explorar esse planeta sempre!
Entre uma viagem e outra, Zeca fez uma escala no escritório da B4Tcomm, em São Paulo, em fevereiro do ano passado, quando nem imaginávamos o que o futuro nos reservava. Hoje, 17 meses depois, estamos cada um na sua casa e conversando pelos apps de comunicação.

Jornalista e apresentador, tem uma trajetória que começou no final dos anos 80 na “Folha de S.Paulo”, passou pelo início da MTV, TV Cultura, revista Capricho e completou um período de 24 anos na TV Globo. Enquanto selecionava novos projetos (agora já sabemos, Zeca!) , com a mesma atenção e curiosidade de quem escolhe um novo destino para viajar, o convidamos para responder as 4 perguntas da série “Inspirar para não pirar”.

Aumente o som e entre no ritmo cativante do mundo multimídia de Zeca Camargo.

1- Com toda sua experiência no jornalismo, como você avalia os cenários musical e cultural do Brasil hoje? Você acredita que evoluímos ou regredimos?

Zeca Camargo: Eu sempre brinco que tenho inveja do adolescente que gosta de música hoje. Quando eu estava nessa fase da vida, entre você saber que uma banda que você gostava tinha lançado um novo álbum e você ter ele nas mãos poderia levar algumas semanas – se não meses! Hoje, claro, em um segundo você baixa a música nova da Grimes no seu smartphone – de qualquer lugar do mundo! Essas infinitas possibilidades que a tecnologia traz para o entretenimento, ironicamente, um problema: temos uma ou duas gerações de consumidores de cultura pop que quase não têm tempo de consumir tudo que está disponível. Mesmo quem é da minha geração, por conta dos algoritmos que regem nossos hábitos culturais hoje, está sempre correndo o risco de ouvir, ler, ver, sempre a mesma coisa – e deixam passar preciosas oportunidades de conhecer coisas novas. Acredito que vamos achar esse equilíbrio entre mergulharmos no que a gente gosta e ser surpreendido por uma novidade. É uma lição pra gente, mas é inegável que sairemos mais ricos culturalmente – uma vez que os artistas têm muito mais espaço para mostrar seu trabalho – e, também, mais entretidos!

2- No seu “Diário do Isolamento” (já no 60º episódio!), publicado no seu IGTV, a gente percebe uma profusão de referências na construção do que o Zeca Camargo é hoje. Entre músicas e viagens, é possível identificar canções e lugares que são impossíveis de separar da sua essência?

Zeca: Sou uma pessoa bastante musical, apesar de nunca ter aprendido música – e não sou capaz nem de cantar com afinação. Mas desde pequeno, nos discos de vinil que meus pais tinham em casa ou nas rádios que ouvia quando ia de manhã pelo colégio, eu registrava as músicas com facilidade. Quando a dança entrou na minha vida, aos 20 anos, percebi que os movimentos que fazia eram desdobramentos desses sons que eu ouvia. Minha curiosidade pelo novo, que era inicialmente ligada ao mundo pop, cresceu para os sons étnicos, muito pelo caminho da dança. Oriente Médio, Índia, Europa Mediterrânea e África foram aparecendo como novos horizontes sonoros que, inevitavelmente se transformaram e fronteiras geográficas de verdade. Acho que posso dizer que saí pelo mundo procurando sons e foi essa combinação de dança e música que abriu as portas dessas viagens pra mim. E trago tudo isso comigo. Quando apresento uma música nos “Diários do Isolamento”, ou mesmo um souvenir de viagem, tento apresentar tudo com um conteúdo cultural, dando a referência do porquê daquele item ser tão importante para mim. Minha coleção – de discos, objetos, lembranças – é também uma “biblioteca” de referência. E muito viva!

3- Entrevistar é uma das atividades mais corriqueiras de um jornalista, independente da plataforma em que trabalhe. Quem você se orgulha de ter entrevistado? E quem você não entrevistou, mas gostaria de fazê-lo (ou tê-lo feito)?

Zeca: Acho que posso me orgulhar de ter entrevistado praticamente todos os músicos pop que foram importantes para a minha geração – de Madonna a Lady Gaga; de Mick Jagger a Noel Gallagher. Acho que está claro que não tenho nenhuma barreira no que diz respeito à música. Admiro todos os gêneros e todos os artistas – e o que me fascina é sempre conhecer o que está por trás dessas mentes que compõem e cantam músicas que nos transformam. De todo esse currículo eu tenho não apenas uma, mas três entrevistas das quais me orgulho muito. Sem ordem de preferência: Paul McCartney, afinal de contas, é um Beatle, admirado por todo mundo e por mim em especial; Renato Russo, que eu acho que foi o grande mensageiro pop da minha geração, com quem cruzei em vários momentos mas em especial numa entrevista de longo formato para a MTV que ficou na história; Kurt Cobain, uma entrevista épica, que quase não aconteceu, mas que foi também histórica para mim e para a presença do pop no Brasil, ter falado com ele na época em que o Nirvana era a banda mais poderosa do mundo é um orgulho no meu currículo. E quem faltou? Eu tinha o sonho te ter entrevistado dois grandes artistas da história do pop: David Bowie e Prince. Não deu…

4- Quando a pandemia acabar, qual será seu primeiro destino de viagem e por quê? O quê você espera encontrar lá?

Zeca: Fico dividido entre ir a um destino novo ou voltar a um conhecido destino onde me sinto bem e à vontade. Na primeira opção, eu tenho um destino dos sonhos que a própria pandemia tornou proibitivo: o Irã! Sou fascinado pela cultura persa e tinha planos de passar parte das minhas férias – que seriam em maio – lá. Agora, porém, penso duas vezes – lembrando que, no início da crise mundial, o Irã foi um dos primeiros países afetados. Poderia tentar ir para a África também – tenho Botswana como um destino dos sonhos, mas também será complicado ir para lá por um bom tempo. Sendo assim, acho que vou “apelar” para velhos destinos – e vou querer ir para bem longe. Tenho uma paixão por Bangcoc, com seu caos urbano, sua diversidade gastronômica, sua mistura bruta de beleza, paz e… bagunça. É lá que eu vou me sentir vivo todos os anos, desde 2003 e iria para lá sem pestanejar assim que os brasileiros voltarem a ser bem-vindos nos aeroportos mundiais. E, já que vou estar pelo sudeste asiático, vou aproveitar para dar um pulo no Laos, em Luang Prabang, e tentar esquecer de tudo que vivemos nestes tempos recentes…